quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Qual o tamanho do seu mundo?


Algumas pessoas contentam-se em ter uma casa; outras precisam que essa casa não tenha portas e janelas; já para os ditos errantes, nem mesmo as paredes importam. O mundo torna-se uma morada sem a noção do previsível. Um mundo sem dimensões.
Para algumas pessoas, o perímetro quadrado de um quarto de dormir é aconchego e segurança; para outras, toda aquela mesmice e estagnação remetem a um enterro diário de quem aparentemente continua vivo. Para tantos, ficar é terrível.  Segurança é estar solto por aí.
Vivemos dentro da ideia do aprisionamento sentimental. Quando os pais colocam os filhos no mundo, criam vínculos, correntes, amarras que só eles enxergam. Os filhos, desde o rompimento do cordão umbilical, já sabem o que é se desfazer de amarras e passam a vida toda em busca de desatar as que ainda restam.Uma vez desfeitos os vínculos básicos que nos ligam ao alicerce da casa dos pais, o mundo fica sem base alguma e flutuar no incerto também é viver. Isso se chama aprendizado. Mas pode ser chamado também de necessidade de amadurecimento.
Nem todo mundo precisa de muito mundo para viver. Há também aqueles que querem casa, comida e roupa lavada, de preferência, na casa dos pais. Não pretendem se desfazer de amarras coisa nenhuma. Nem sequer se sentem presos. Para eles, o mundo é do tamanho que caiba nas mãos; é bem diferente das incertezas a cada esquina, daqueles gulosos que querem mundo de mais.

As revistas nos trazem mundos estampados nas capas, mas aquilo, desenhado em cores de riqueza multimilionária faz parte do universo de poucos, às vezes, do universo de quem está completamente perdido nesse mundo. Seria esse o mundo a ser procurado e conquistado?
Cada pessoa sabe de suas próprias necessidades vitais. Para aquelas que já enjoaram de ver as mesmas páginas da vida, a paisagem precisa ser renovada e estradas não são refúgios, são soluções. Ficar e estacionar, talvez não seja para todos. Existe muito mundo por aí e muita gente parada e infeliz. Casa, comida e roupa lavada são propostas interessantes, mas não são para todos.
Comida é imprescindível a nós. Roupa lavada também. No entanto, casa, bem... essa teoria de que toda casa precisa de "teto" único, não sabemos quem disse, mas que tem muita gente acreditando ou tentando acreditar, há isso tem muita. Que bom que ainda não fizeram teto também para as estradas, senão o mundo estaria perdido. Os errantes, os incertos, os inconstantes e os que sonham em ser felizes vagando sem direção certa, todos estariam definitivamente mortos. Tomara que nunca ninguém pense nisso.


Ps: Texto em homenagem a duas pessoas: Daniel, meu aluno. Renée, minha ex- aluna, que em matéria de ampliação de mundo, tornou-se minha professora. Afinal, o texto surgiu depois de uma conversa cheia de vida que tivemos.A escrita do texto foi na aula prática de Redação dos meus alunos. Resolvi, escrever também para dar exemplo. rsrsrsrrs

Textos e malas mentais: Luciana Rodrigues

3 comentários:

  1. Ótimo texto!
    As vezes tudo que eu quero é liberdade, em outras preciso urgentemente de um abrigo! Tenho mtas amarras.... não sei mto bem como lidar com elas!
    Bjão

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  2. Nossa, fiquei emocionada com a homenagem, ainda mais vinda de uma pessoa como você :D Eu fico muito feliz quando consigo dividir essas coisas, mesmo. Mas esse lance do teto é a gente mesmo que faz. Não existe "lá dentro" ou "lá fora" quando conseguimos entender que os limites são psicológicos.
    Abraços gelados da Finlândia!

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  3. Tudo de bom para você Renée!Abraços da terra de 5000 mil sóis!!Muito calor e todo mundo junto!!!

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