domingo, 10 de julho de 2011

A inocência e a Ditadura



Os anos de chumbo da Ditadura Militar marcaram a história do Brasil e, por isso, não podem ser esquecidos. Escritores, historiadores, cineastas ,vez ou outra, apresentam produções resgatando esses tempos difíceis. Em 2006, mais uma produção cinematográfica abordava a Ditadura Militar, tratava-se do filme O ano em que meus pais saíram de férias. Agora, o leitor deve estar se perguntando: mas por que assistir mais um filme sobre esse tema, se ele já parece tão batido e desgastado? Começo respondendo que vale a pena.
O filme em questão conseguiu desenvolver um roteiro maravilhoso que não se exaure dando voltas em tornos de clichês e histórias já contadas. A história de Mauro, um garoto deixado pelos pais na porta da casa do avô poderia ser apenas mais uma narrativa envolvendo militares e estudantes contestadores. Mas não é. Cheia de um olhar infantil, desconhecedor dos fatos reais, o filme não faz uma denúncia do que já foi denunciado. Mauro é deixado pelos pais que tiraram “férias”. O papel do filme é nos presentear com um olhar novo, de alguém que passa a entender a metáfora das férias com o passar do tempo e a ausência dos pais.
A promessa feita pelos pais de que voltariam na copa de 70 faz das férias um tempo cronometrado  e gerador de uma esperança que move o garoto Mauro ao longo do filme. Ele mesmo representa um pouco da metáfora dos brasileiros. Depois de abandonado, vivendo uma situação difícil, revolta-se; depois, aprende a viver de outra forma, mas com esperança na mudança.Volta a sorrir, desespera-se; sorri novamente. Uma situação bem parecida com a dos brasileiros perseguidos, Mauro também sofre um exílio. Não está mais em seu lar e sente a falta de sua antiga vida. Aliás, vale a pena refletir sobre o conceito de exílio mencionado no final do filme.
Serve também para ilustrar por que somente a mãe volta no final. A copa de 70 e a paixão do garoto pelo futebol de botão e pela seleção brasileira fizeram com que ele esquecesse por alguns momentos do abandono dos pais. Era uma alegria gratuita dele e de muitos outros espalhados pelo país. Mauro começa a história criança e termina “adulto” já entendendo o que estava acontecendo no Brasil. O seu sonho de completar o álbum da copa de 70, depois de algumas revelações, talvez tenha perdido um pouco o brilho.
Qual o olhar da criança diante das cenas que envolvem cavalos partindo para cima de manifestantes? O que pensar ao ver jovens apanhando do exército? Por que eram presos? Os pais que foram obrigados a deixá-lo também estavam passando por isso? Sem dúvida, um choque de realidade. Mais uma vez o filme dá espaço para um pouco do lúdico. Mauro sai do meio dessa turbulência salvo pelo goleiro de várzea, seu grande herói.
A Ditadura Militar contada pelos olhos de uma criança. Essa era a grande missão do filme O ano em que meus pais saíram de férias. O resultado foi muito bom. Uma obra bem amarrada. Nada cansativa. Engraçada. Recomenda até para aqueles que não aguentam mais ouvir falar em obras sobre a Ditadura. Esse filme traz a renovação das expectativas. O novo pode brotar até de assuntos batidos.

Textos e elogios aos atores,produção, direção e tudo que for ão: Luciana Rodrigues

2 comentários:

  1. Eu tenho este filme em minha coleção. É Fantástico! Muito bom seu blog, visite o meu
    beijos

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  2. Nossa, vou ver esse filme com certeza!

    Gostei muito do seu blog, parabéns. Já estou seguindo, dá uma passada no meu também ^^

    http://doblushaosalto.blogspot.com/

    bjkss

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