domingo, 14 de novembro de 2010

Manchetes de O Jornal

Barulho,divergências de opiniões,egos inflamados,necessidade de ser o melhor.Tudo isso misturado ao relógio que cobra implacavelmente uma notícia rentável a uma empresa de comunicação.Pois é,o filme O jornal é uma caricatura,um exagero,ou a realidade retratada na tela?A pouca trajetória de uma iniciante no jornalismo não me permite responder com a força prática da experiência.No entanto,depois de conversar com alguns repórteres, meus ouvidos  ,em tão pouco tempo, me permitem crer que a realidade não parece tão ficcional.
O jornal é um filme capaz de despertar no estudante de jornalismo reflexões sobre carreira,companheirismo,família,valores.O mais importante de tudo:valores.Qual o limite para se conseguir uma informação?Vale a pena perder completamente o escrúpulo profissional em nome do ineditismo ou até mesmo da verdade?
Falando da verdade na informação,outro ponto abordado de forma louvável é a disputa entre a notícia que parece certa e a que com muito esforço de apuração um dia será certa.A pressa em botar as máquinas para produzirem as linhas folhetinescas do dia seguinte esmaga a visão dos apressados e compromete a lisura de um jornal.
Michael Keaton vive o chefe de reportagem Henry Hackett e Glenn Close a chefe de redação ambiciosa Alicia Clark,cada um tentando aparecer mais e sobreviver a uma “necessidade” de holofotes.Henry é um jornalista ambicioso por notícias quentes.Incomodado por não acompanhar o sucesso de outros jornais que se destacam por conseguirem furos sensacionais, resolve imprimir em sua vida uma única ambição:fazer o melhor onde trabalha,mesmo que para isso tenha que passar por cima da concorrência  que  deseja contratá-lo para trabalhar ganhando mais respeito e mais dinheiro.Alicia pensa em dinheiro e poder,vende-se em um classificado inventado por ela.Joga seguindo as regras do seu próprio interesse,trabalharia para quem lhe pagasse melhor.
Esses são os personagens que travarão uma batalha pela verdade.Cada um construindo a sua e sempre imersos em brigas pessoais alimentadas pelo aniquilamento da palavra limite.Agridem-se verbalmente até se agredirem “homem a homem”.Digo isso porque para defenderem o que acreditam ser o correto,esmurram-se em uma cena memorável que retrata o quando o ser humano poder ser ridiculamente ambicioso pela defesa de suas ideias.O primeiro round é vencido por quem tem mais poder.Alicia demite Henry aproveitando-se do seu cargo maior.
Mas o que está em jogo é a lisura do jornal The sun ,falar uma verdade pouco investigada não  contribui para que o jornalismo,o jornalista e o veículo de comunicação ganhem respeito. Brigas pessoais sendo alimentadas pelo aniquilamento da palavra limite.Manchetes sensacionalistas abrem caminho para uma trajetória fugaz.Vende-se hoje,amanhã não sem tem credibilidade.Jornalismo é responsabilidade nas mãos,portanto não basta fotografar e estampar “culpados”,usar palavras inocentes para atacar sem provas.O grande mal do jornalista estaria no seu autoendeusamento que lhe permite crer que tudo pode em menos de 7dias.Em se tratando de jornalismo,7 horas já está de bom tamanho para se desfazer um mundo.
Graças a um resquício de bom censo Alicia,depois de chegar ao baixo nível de uma briga física ,deixa que a verdade prevaleça,assumindo sua imaturidade diante de um assunto tão sério:a condenação de dois jovens pobres e negros,acusados de assassinato de ricos e brancos importantes.Deixar que as páginas do jornal sentenciem o destino de inocentes não lhe pareceu coerente.A briga pessoal que a fazia cega não prevalece no final.
Até onde tem que ir o profissional desejoso pela informação?Existe vida própria e familiar depois do jornalismo?Essa é outra questão levantada pelo filme O Jornal.Henry,desfaz compromissos familiares de forma “ingenuamente” interesseira,não escuta a esposa grávida,não se encontra mais dentro de uma vida calma e pacífica dos mortais que querem constituir família.Sua família é o jornal.A cena da personagem abandonando no restaurante os pais que viajaram 2 horas para vê-lo e também a esposa deixa bem claro a prioridade de suas escolhas.Seria também isso possível na realidade ou seria ficção?
Conversando com um profissional da área televisiva,há poucos dias de encontrar o filme na locadora,ouvi dele que jornalista não tem fim de semana,folga ou feriado.As férias são seu descanso.Olhando por essa perspectiva,acho melhor nem levantar discussões sobre esse novo subtema do filme.Henry arrepende-se por ter abandonado a esposa em uma gravidez solitária,mas o filme não nos deixa esperançosos com uma possível mudança sua.Pelo contrário,nos deixa entender que sua mulher é que se rendeu ao brilhantismo do marido,já que depois do trabalho de parto ela o elogia segurando um exemplar do jornal The sun e nele estava estampada a notícia pela qual ele lutou durante todo o filme.
O jornal deixa qualquer jornalista bastante intrigado em relação à profissão.Mas dizer que ele nos amedronta a ponto de desistirmos de perseguir a verdade que será estampada em páginas de informações diárias já seria um exagero.Cada um de nós jornalistas fará sua autoavaliação de importâncias quando chegar a hora certa.




Ficha Técnica
Título Original: The Paper
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 88 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1994
Estúdio: Universal Pictures / Imagine Entertainment
Distribuição: Universal Pictures / UIP
Direção: Ron Howard
Roteiro: David Koepp e Stephen Koepp
Produção: Brian Grazer e Frederick Zollo
Música: Randy Newman
Direção de Fotografia: John Seale
Desenho de Produção: Todd Hallowell
Figurino: Rita Ryack
Edição: Daniel Hanley e Mike Hill

Elenco
Michael Keaton (Henry Hackett)
Robert Duvall (Bernie White)
Glenn Close (Alicia Clark)
Marisa Tomei (Martha Hackett)
Randy Quaid (Michael McDougal)
Jason Robards (Graham Keighley)
Jason Alexander (Marion Sandusky)
Spalding Gray (Paul Bladden)
Catherine O'Hara (Susan)
Lynne Thigpen (Janet)
Jack Kehoe (Phil)
Roma Maffia (Carmen)
Clint Howard (Ray Blaisch)
Geoffrey Owens (Lou)

Texto e jornais de confusões: Luciana Rodrigues

2 comentários:

  1. Assisti 'O jornal" no meu primeiro semestre de faculdade, confesso que na ocasião o filme me causou um certo arrepio. Eu teria feito a escolha pela profissão certa? Meu coração dizia que sim. O tempo passou e acabei passando em um concurso e virando bancário (pressão semelhante). Ainda hoje quando me lembro dos bons tempos de estágio, da correria para fechar o jornal antes do dead-line, da busca pelos furos e dos conflitos em as diversas verdades, confesso que sinto falta... Ler o texto me fez refletir sobre isso e deu vontade de reassistir ao filme. Parabéns pelo Blog!
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    http://sublimeirrealidade.blogspot.com/
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    Sigam-me os bons!

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  2. Esse foi o primeiro filme que assisti sobre a profissão-jornalista.Confesso que fiquei arrepiada tb!No entando,mesmo ainda começando e sem ter estagiado,vejo que a correria é um dos fascínios.

    Obrigada pela visita!obrigada pelo comentário!

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